Compartilhamento e Mobilidade Sob Demanda como fatores de inovação sustentável e drivers da inteligência urbana

O compartilhamento, pela sua abrangência e potencial transformador, é um dos principais “drivers” da inovação e merece aprofundamento. 
Organizações raramente inovam de maneira isolada, sendo muito mais comum a atuação colaborativa e até mesmo interdependente, como por exemplo os participantes das cadeias de valor de cada setor, universidades e entidades públicas. A inovação é influenciada por variáveis tais como a legislação vigente, regras sociais, rotinas e costumes que tanto as estimulam quanto as refreiam. Tais organizações e instituições são componentes do sistema para criação e comercialização do conhecimento no qual as inovações florescem.


Devemos ainda ressaltar a função social da inovação ao considerar as necessidades dos usuários em relação aos produtos e serviços oferecidos ao longo de toda a cadeia de valor que pode ser definida como o conjunto de elos entre os elementos necessários para atender demandas funcionais tais como mobilidade, comunicação e energia.  A inovação e a busca por aperfeiçoamento são pilares essenciais do desenvolvimento sustentável e representam a busca por novos padrões de competência por meio de reflexão, avaliações e compartilhamento de conhecimentos que promovam ambiente favorável à criatividade, experimentação e implementação de novas ideias capazes de promover benefícios a todas as partes interessadas.

 

Inovação e mobilidade
Na fronteira entra a inovação e a mobilidade urbana sustentável, podemos identificar diferentes características e níveis de difusão em quatro principais nichos: 
Novas formas de propulsão (mobilidade elétrica, inclusive), compartilhamento de veículos, intermodalidade/multimodalidade e micro-mobilidade e  ainda a inovações conceituais ligadas ao transporte público.
Sistemas sócio-tecnológicos tendem sofrer de relativa inércia, talvez ligadas aos investimentos não-recuperáveis que impedem mudanças radicais, sendo assim os processos de mudança costumam depender de se adaptar os estilos de vida, criar nova infraestrutura, novas cadeias de suprimento que as tornem parte do sistema de negócios, e fazem com que a inovação ganhe “momentum” . O estabelecimento de nichos que desafiam regimes dominantes protege o mercado e funciona como incubador de inovações para eventualmente viabiliza-las e torná-las competitivas para a transição sustentável.

Para o desenvolvimento de um sistema de mobilidade urbana sustentável e inteligente, quatro pontos principais devem ser observados e todos eles têm intima relação com a economia digital e o aporte de tecnologia e inovação: 
Planejamento urbano

 

Gestão de demanda

 

Intermodalidade/Multimodalidade

 

Eficiencia energética

 

 

A exaustão do modelo dos veículos particulares como propulsores da mobilidade é evidenciada pelo caos urbano da maioria das megacidades, principalmente nos países em desenvolvimento como o Brasil. Veículos mais eficientes e ecológicos não bastarão para conter os problemas ligados à mobilidade urbana. Sem políticas públicas que estimulem outros meios de locomoção coletiva e compartilhamento de veículos como alternativa ou complemento aos modos de transporte individuais não há grandes expectativas de melhora dos índices de mobilidade.
Há diversos grupos de interesse ligados às indústrias da mobilidade e eles costumam atuar de maneira contraproducente no que diz respeito à incorporação de inovações. Os operadores de transportes de massa tradicionais bem como as montadoras, se apresentam de forma mais refratária às mudanças e atuam de maneira defensiva no que diz respeito à inovações. As organizações ligadas ao transporte sob demanda, tanto em veículos particulares quanto dos transportes coletivos tendem a se posicionar de maneira mais incisiva na incorporação de inovação e são, ao menos para parte dos usuários, opções de substituição ao transporte público. Até mesmo as empresas ligadas à micro mobilidade são confundidas com substitutos ao transporte coletivo. Nada disso faz muito sentido em um ambiente urbano profundamente dependente de sistemas integrados de transportes e que reforçam a máxima de que não há solução simples para problemas complexos. Independente do seu posicionamento na matriz de mobilidade (tanto nos setores tradicionais como nos mais inovadores) a solução parece estar nas iniciativas ligadas à integração como uma prioridade absoluta de qualquer esforço.

 

O uso combinado de modais diversos como contribuição para redução de congestionamentos e poluição e o compartilhamento de veículos podem complementar os esquemas de mobilidade de forma inteligente e sustentável.

 

O impacto na indústria automobilística:
Importantes players no esquema de mobilidade, os automóveis , que anteriormente eram seus porta-vozes, foram transformados em vilões ambientais e corroboram para mudanças profundas no setor automobilístico com margens menores, busca de maior eficiência, maior concorrência e pulverização (novos players da Coreia, China e Índia). O que a princípio parece o fim de uma era, pode na verdade significar o início de transformações profundas nos setores ligados à mobilidade, nos seus modelos de negócio e na incorporação de tecnologias e inovação.  O lado desanimador destas mudanças é que grande parte dos investimentos feitos pelas principais indústrias e montadoras têm sido feito em inovações incrementais no modelo de negócios existente, o que pode ser considerado um tipo de inércia tecnológica, fazendo com que os novos participantes tenham papel fundamental no processo de transformação social que a mobilidade tem potencial para promover.

 

Mobilidade mais inteligente e sob demanda:

O desenvolvimento de esquemas de compartilhamento de veículos bem como a demanda por serviços de mobilidade que extrapolem a propriedade do meio de transporte, podem fazer com que até as indústrias automobilísticas tenham que introduzir novos produtos e serviços aos seus portfólios… Se por um lado, o encolhimento do mercado de veículos particulares somado à percepção de que eles são vilões ambientais representam ameaças às industrias, por outro lado, o crescimento dos veículos mais eco eficientes, e dos mercados de transporte de massa e as tecnologias de comunicação e informação integradas representam oportunidades relevantes.
O sucesso dos esquemas de Mobilidade como Serviço (MAAS – Mobility as a Service) é reflexo da compreensão de que a propriedade de veículos particulares não é sustentável e o aparecimento de opções de compartilhamento do tipo “ride hailing” (taxis, Uber, 99 entre outras) corroboram para isto.

 

A atratividade do compartilhamento parece ser influenciada pela valorização do tempo do deslocamento, que pode se transformar em tempo útil se você não está ao volante; a diminuição da tensão por não estar dirigindo; e o fato de evitar o  desgaste de buscar vagas de estacionamento.

 

Geralmente, os esquemas de Mobilidade como Serviço (MaaS) servem como agregadores, adicionando trechos individualmente e oferecendo-os como pacotes de deslocamento para atender necessidades específicas e conseguem cobrar pelo valor que geram para o cliente. Pode-se inclusive comprar serviços no atacado e organiza-los em pacotes que podem ser vendidos aos clientes na forma de assinaturas os serviços eventuais.
Para fazer com que os serviços MaaS funcionem de maneira sustentável é importante atender a algumas condições:

 

a) conhecer o perfil das viagens dos usuários incluindo a quantidade, frequência, duração e extensão das mesmas

 

b)observar a atratividade e disposição para usar e pagar pelo serviço em oposição à utilização de um veículo próprio e

 

c) o serviço fornecido tem que ser ainda capaz de influenciar e incentivar o uso de modais que fazem parte da sua estrutura, para continuar a oferecer vantagens para os operadores.

 

Se estas condições forem atendidas, o esquema MaaS está gerando valor e viabilizando sua operação. Além da superação destas condições essenciais, em um momento inicial é natural que as empresas ofereçam descontos relevantes nas suas assinaturas para criar mercado afastando os usuários da relação de propriedade com os veículos mas esta situação não é sustentável por longos períodos, o que representa um desafio importante para as empresas envolvidas.

 

A operação de MaaS tem um componente econômico muito interessante se avaliada em comparação a outras plataformas digitais e isto abre uma janela de oportunidade muito interessante para os serviços de MaaS.

 

Para o Facebook, em 2018 cada usuário valia aproximadamente 0,30 USD por mês Para as operadoras de serviços móveis ou banda larga o valor era de aproximadamente 90 USD por mês. A posse de um carro costuma implicar em gastos superiores a 500 USD por mês

Compartilhamento, sustentabilidade e inteligência urbana
De início, pode-se associar o compartilhamento do tipo ride hailing com a ecoeficiência por estabelecer maior relação de benefício para o impacto causado pela produção dos veículos (a ecoeficiência é a medida da relação entre o benefício ou produto gerado em função dos impactos causados para produzi-lo), quanto maior a sua utilização menor é o impacto relativo da sua produção, mas a atividade dos motoristas do Uber ou 99 ainda não pode ser considerada sustentável pois exerce ainda a mesma utilização do espaço viário, ainda que seja por um carro do qual você não é o proprietário…. o impacto positivo no congestionamento dos centros urbanos é limitado às vagas de estacionamento dispensadas, o que já não é pouco, mas ainda é muito menos do que é possível fazer com toda a tecnologia e a informação disponíveis para estas empresas.
Espera-se que num futuro próximo, tal como já acontece em algumas partes do mundo, as empresas ligadas ao compartilhamento e aos serviços de transporte por aplicativos participem dos sistemas integrados de transporte, através da disponibilização das informações como contrapartida pela criação de infraestrutura e viabilização de políticas de integração física e tarifária com outros modais.
Felizmente, inovação é intimamente ligada à inteligência urbana como produto das iniciativas sustentáveis somadas à economia digital e é um privilégio acompanhar de perto, principalmente através da atuação da OPTAI, a evolução do sistema de mobilidade urbana sob diferentes ângulos, e de forma consistente. Aplicativos de transporte sob demanda em diversas cidades do mundo e mais recentemente em São Paulo compartilham dados de tempo médio de percursos, calculados a partir de históricos de deslocamento intermediados pelo aplicativo. Estima-se que este serviço estará disponível em outras grandes cidades do Brasil a medida em que o número de viagens for suficientemente relevante para gerar dados de maneira agregada. Esta base de dados pode contribuir para a gestão e planejamento de políticas públicas e atende a interessados e pesquisadores ligados à mobilidade urbana a fim de simular e avaliar impactos de investimentos em infraestrutura. 

Em função da preocupação com a privacidade dos dados, estes são tornados anônimos e  são agregados de forma que não se possa identificar nenhum perfil individualmente.  A ferramenta oferece ainda recursos para mensurar o impacto de incidentes nos deslocamentos tais como interrupção de vias, eventos climáticos extremos e problemas de infraestrutura urbana além de permitir base de comparações com outras cidades e com outros períodos de incidência.

 

Ainda no que diz respeito à integração, em São Francisco, na Califórnia, foi lançada uma nova geração de aplicativo que pretende integrar informações desde os serviços de transportes públicos, as viagens sob demanda e os serviços do entrega de refeições, bem como as bicicletas e patinetes , tudo na mesma plataforma, MaaS de verdade. Outras iniciativas que devem prosperar são as ligadas aos serviços de micro mobilidade e modos de transporte ativo integrados às plataformas digitais. Iniciativas ligadas à Mobilidade Sob Demanda e MaaS são de interesse de todo o sistema de transporte integrado e podem representar o futuro da mobilidade. Cabe às partes interessadas decidir a melhor forma forma de abordá-la e o melhor momento de fazê-lo, mas me parece inevitável que as relações entre operadores, contratantes e clientes sejam profundamente impactadas pela disponibilidade desta tecnologia e da potencialidade que ela representa em termos de personalização dos deslocamentos e da capacidade exponencial da economia digital ,a ver…

Ref: Marx, R., Mello, A. M. de, Zilbovicius, M., & Lara, F. F. de. (2015). Spatial contexts and firm strategies: applying the multilevel perspective to sustainable urban mobility transitions in Brazil Paul Meister / The business model of Mobility as a Service / Medium . com Uber Newsroom – Uber compartilha dados para ajudar em pesquisas sobre trânsito e em políticas de mobilidade – publicado em abril de 2019 – escrito por Andre Monteiro

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